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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O velho paradigma é a escola


O movimento Todos pela Educação e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) aplicaram no primeiro semestre deste ano a Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização). Se pretendia avaliar o processo de alfabetização em alunos que concluíram o 3º ano do ensino fundamental.  Os resultados permitem diversas interpretações.

O 43,9% dos alunos são deficientes em leitura e 46,6% em escrita. Ou seja, são semialfabetizados. Não captam o significado do que leem e redigem uma simples carta com graves erros de sintaxe e concordância. A situação é mais grave, historicamente na escola pública que na escola particular.

Os diversos autores concordam: uma criança que aos 8 anos de idade não sabe ler nem escrever vive já um atraso frente àqueles que lêem e escrevem fluentemente. Destes será o futuro. Daqueles um eterno retorno ao passado. E todos culpam sistematicamente à escola.

Parecem verdades absolutas: 1. a idéia de que as crianças devem ser compulsoriamente alfabetizadas até os 8 anos de idade. 2. Que isso deve ocorrer dentro da escola.  Quem ousaria contestar tais verdades?

E concomitantes a essas duas verdades, começam a aparecer outras: a) a contestação da progressão automática e da aprovação automática; b) a demanda de superar o regime de 4 horas de permanência na escola  por um outro que contemple 6 a 8 horas por dia na escola, como ocorre em tantos países.

Estas medidas, altamente conservadoras, são claras em seus objetivos: reforçar o caráter punitivo da educação escolar, castigando ao estudante pela ineficiência do sistema e; propiciar o aumento das horas de reclusão escolar,  com a idéia de que manter mais tempo o estudante dentro de um sistema (ineficiente) lhe permitirá tornar-se um melhor estudante.

Os que clamam por mudanças na educação apenas pedem que o velho paradigma escolar seja fortalecido quando deveriam estar pensando urgentemente em novos paradigmas. E aqui, é necessário afirmar com toda veemência: o velho paradigma é a escola. Ela deve ser historicamente superada.

Porém, como sempre ocorre com as mudanças históricas, elas não são decretadas pelos sustentadores dos velhos paradigmas. Não é desde dentro do sistema escolar que será possível pensar como educar efetivamente as novas gerações. A escola viverá seu ocaso como acontece com os paradigmas que não mais respondem as necessidades da história. De nada adianta o gasto de energia coletiva, simbólica, política e social em renovar, atualizar, melhorar o sistema escolar.

O que é necessário agora é viver, ensaiar, experimentar, aprender a partir de novas estruturas. Estas nos são dadas pelo próprio desenvolvimento histórico, pelas novas tecnologias, pela emergência de novas possibilidades de comunicação, de interação a partir das redes sociais. Podemos dizer que as novas tecnologias derreteram as escolas. Na medida em que é possível (não utópico), acessar livremente, de maneira desterritorializada, todo tipo de informação (científica, artística, mitológica, filosófica, etc.), entrar em contato com comunidades de interesses comuns, de partilhar abundantemente do conhecimento que está sendo produzido, então é possível pensar e executar um projeto no qual todas as instâncias da sociedade se tornem educadoras. A família, a comunidade, a rua, o bairro, o mercado, as instituições públicas, as privadas, em fim, todo indivíduo e todo possuidor de um saber, toda memória coletiva ou individual, podem e devem ser conectados numa onda comunicacional educativa mundial.

Isto já está acontecendo. A educação não está mais nas mãos dos estados. As escolas sim (esse é o problema, confundir educação com escolas). Mas o Estado, as Organizações Internacionais, as grandes corporações devem acordar para esta realidade: o mundo está comunicando-se e também, educando-se, a partir de outras instâncias. Está na hora de começar a pensar o que fazer com tudo isso: o mundo que acontece fora das escolas!!!!


2 comentários:

  1. Edilberto e Tatiana,
    Sou professora (seja lá o que isso signifique) da rede municipal de ensino de São Paulo e percebo que há certa lógica na ideia de que o mundo parece estar fora das escolas. Concordo, SIM, que educação transcende a instituição ESCOLA e que qualquer lugar e qualquer momento são oportunidades de aprendizagem e que todos nós somos sujeitos nesse processo.

    O post acima está recheado de temas para reflexão, mas de alguma maneira temos que começar:

    “O que estão fazendo aqueles que tiveram coragem de educar seus filhos fora da escola?”

    Tenho muita curiosidade nesse sentido. Quem são essas pessoas? Como “ganham suas vidas”? A que esfera social pertencem? Como fazem dar certo? E, principalmente, o que seria esse “dar certo” em uma perspectiva “desinstitucionalizada”?

    Peço que me ajudem nessa reflexão, pois, profissionalmente, estou imersa no seguinte recorte de realidade: uma escola pública com grande número de alunos, dentro de uma comunidade bastante carente; com salas superlotadas, mas com alunos frequentes em função dos mais diversos mecanismos de garantia de acesso e permanência (bolsas, leite, alimentação...); famílias com as mais diversas formações que englobam indivíduos que desempenham papeis sociais diversos dos tradicionais “pai” e “mãe” (na maioria das vezes são tios, avós, primos, padrinhos, irmãos mais velhos que se responsabilizam pelos estudantes); estudantes que, por vezes, encontram na escola um refúgio de uma realidade muito pior que a “reclusão escolar”.

    Penso de que maneira desinstitucionalização poderia atuar nesse recorte de realidade.

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  2. Olá Edilberto e Tatiana,

    Gostei das perguntas e do início do diálogo.
    Gostaria de compartilhar um texto e vídeo que fiz que tem a ver com este texto de vocês, mas que também é crítico ao vídeo do 'paradigma educacional' que vi em outro post.

    E se a educação for o paradigma antigo?
    http://augusto.blog.br/paradigma_educacao

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