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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Como posso saber que estou aprendendo 2

Capacidade de interagir numa rede de interesses

Vimos que a base de todo o processo de aprendizagem se fundamenta no domínio de diversas linguagens: corporais, estéticas, sociais, disciplinares etc. Adquirir uma linguagem nos permite ter um repertório com o qual transitar em meio de uma determinada comunidade. Nela, o elemento que cria sinergia, é o uso dessa linguagem por parte de todos os membros da mesma.

Por tanto, o segundo elemento que nos permite perceber se estamos aprendendo, se os nossos filhos estão aprendendo, é a capacidade prática de poder interagir pertinentemente dentro de uma rede de pessoas que se ocupa de determinado tema, assunto, problema, interesse, pessoas que em seus diálogos vão construindo o universo de elementos que compõem um campo de conhecimento.

Interagir pertinentemente é o que faz com que uma pessoa possa entender e ser entendido por todos aqueles que compõem a rede.  O que um aprendiz deve descobrir é que quando ele começa a aprender, ele pode perceber a existência de circuitos específicos de interesses nos quais, o uso de uma linguagem comum é uma característica. Um exemplo simples disso é,  ir a uma conferencia de advogados ou de engenheiros. Em cada uma delas, só será possível entender efetivamente do que se fala se conhecemos o linguajar deles.

Um processo educacional deve por tanto, encontrar estratégias claras para que o aprendiz, além de aprender a linguagem específica de um determinado âmbito de conhecimento, encontre os caminhos para interagir efetivamente com as pessoas que fazem parte dessa rede.

Em realidade não se trata de dois momentos separados: 1. aprender a linguagem específica; 2. Interagir numa rede de interesses. Estes dois elementos são parte do mesmo processo. Assim, ao iniciar o estudante numa determinada temática, devemos apresentar-lo diante das pessoas que constroem a rede de diálogos pertinente.  A convivência nesse novo âmbito do novato com os nativos será o ambiente de aprendizagem.

As escolas não sabem como fazer isto. Primeiro porque elas isolam a cada professor da convivência com os seus pares. Assim, o professor de matemática não tem com quem dialogar sobre matemática. O de história sempre está só. O de inglês só consegue falar em português porque nenhum outro professor sabe a língua. O de música  teria que fazer apenas solos, e assim por diante.

Cada professor vive a escola no isolamento, estão juntos dentro da escola, mais separados pelas linguagens específicas de seus campos de conhecimento. Funcionando assim, terminam eles mesmos isolados das redes de interesses nas quais deveriam interagir intensamente para poder encaminhar a os seus alunos. Uma escola que opera no isolamento não tem como conectar seus professores e estudantes às redes vivas onde o conhecimento e suas diversas linguagens é construído e compartilhado dia-a-dia.

Esse hiato que se estabelece entre a escola, os professores, os estudantes e as redes de produção de conhecimento, tem conseqüências profundas. Todos já experimentamos algumas delas ou todas: a sensação de que o conteúdo do qual tanto fala o professor caiu do céu na cabeça dele.  A idéia de que isso não está relacionado com absolutamente nada no mundo real. A sensação de que ele, o professor, quer nos convencer da importância de uma coisa da qual ninguém mais fala no mundo.  A certeza de que esse tema só interessa a ele.

Se já passou por uma ou várias dessas emoções, agora já sabe qual é a causa: só damos valor aquilo que é compartilhado por diversas atores, àquilo que faz sentido para uma rede de pessoas, e se por acaso alguma informação nos aparece descontextualizada (sem referência a uma rede de interações), então tendemos a não entender, a não dar importância, a desconsiderar. Se não sabemos com quem podemos usar determinadas informações, então, algo em nos simplesmente as elimina.

Isso explica o porquê do circuito vicioso configurado pela dinâmica entre memorização - avaliação  só tem como resultado o esquecimento.  Não a aprendizagem.

A aprendizagem é uma conseqüência do uso efetivo e pertinente que fazemos de determinadas formas de linguagem, de determinados repertórios, num contexto social no qual compartilhar tais formas é legitimo, cotidiano, consensual, corriqueiro.

Antigamente, as escolas não eram lugares onde pais matriculavam seus filhos para que ouvissem o que seus professores queriam ensinar. Eram, na verdade, redes de interesses. Diversos indivíduos interessados em entender, compartilhar, construir modos de ver o mundo, entravam em relações nas quais, a sinergia era dada pela força com que cada um interagia com os outros na construção do conhecimento a respeito daquilo que lhes interessava. Um exemplo disso é a Escola de Pitágoras, da qual  participaram matemáticos de diversas partes do mundo antigo e a qual nos deixou um legado importante.

Hoje, com a facilidade que a internet permite acessar interagir de redes sociais que discutem as mais diversas temáticas, é impensável manter um estudante isolado numa sala de aula. É anacrônico, improdutivo e sobre tudo, irresponsável. A sociedade, o mundo precisam de seres humanos que aprendam a resolver os complexos problemas que estão herdando. Em troca de manter-los isolados entre quatro paredes, temos a urgência de colocar-los em contato com as redes nas quais eles encontrarão o sentido que de fato faz o conhecimento.




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