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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um modelo para pensar a desescolarização da educação

Pensar o que fazer com a educação é o que nos corresponde a todos, famílias, estudantes, professores, empresas, universidades, Estado.  As propostas de reforma da educação se mostram tão tímidas e se fundamentam em elementos que em nada mudariam a estrutura do sistema de educação vigente. Do que precisamos é de novos paradigmas e sobre todo de visões que atendam profundamente à realidade tecnológica e epistemológica atual.  O modelo vigente é anacrônico. Sua capacidade de resposta mal atenderia as necessidades da sociedade do Século XIX. Para que reformar então?

Postamos, para consideração de todos(as) uma tentativa de ir além de uma proposta de reforma. Na tabela abaixo se comparam elementos do modelo vigente, elementos para um novo modelo escolar e elementos para uma desescolarização da educação.  O importante é perceber que tudo o dito aqui é possível. A sociedade conta com os elementos econômicos, tecnológicos para sua implementação.  Por tanto não é uma utopia, mais uma proposta. Discutir, pensar, criticar, melhorar é o que podemos fazer agora.   

Tomamos o risco de colocar-nos publicamente e de ser tratados de sonhadores ou de alucinados. Preferimos assumir esse risco a continuar esperando que as soluções apareçam das estruturas que apenas estão aí para legitimar, manter ou reformar o paradigma de educação que vivemos hoje e do qual temos suficientes razões para o contestar. 

Divulguem, discutam, critiquem, proponham...
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Elementos do Modelo
Modelo Escolar Vigente
Novo Modelo Escolar
Modelo Desescolarizado de Educação
Estrutura física
Escolas tipo fábrica ou prisão, divididas em salas e corredores.  Facilitam o controle e a vigilância. Ambientalmente caras e separadas da comunidade. Em geral carentes de manutenção e esteticamente questionáveis.
Escolas abertas, sem muros, grandes espaços sem divisões, esteticamente bem desenhadas, espaços que facilitam o fluxo, o encontro, a experimentação, o diálogo.  Ambientalmente sustentável. Aberta à comunidade. Incorpora espaços da comunidade como parte da escola...públicos e privados.  A escola deve ser bela fisicamente.
As escolas deixam de ser centros de concentração de estudantes. Passam a ser pontos de encontro e de apoio. Oferecem diversos serviços de apoio aos estudantes, às comunidades, às empresas e às universidades e a diversas instituições públicas e privadas.  A escola passa a ser um lócus e não um centro.
O espaço físico da casa, e  os espaços coletivos da comunidade, e todos os espaços socialmente possíveis, empresas, museus, universidades, instituições serão espaços para o aprendizado.   Se parte aqui da idéia de uma cidade educadora.

Fisicamente a escola passa a ser uma rede de estruturas físicas e tecnológicas de diversos portes, especialmente pequenos centros de apoio espalhados pelo território e misturados com todo tipo de instancias econômicas e sociais. Inclusive micro espaços nos parques, nas ruas, etc.

Estrutura Burocrática
Pesada, quantitativa, compartimentalizada, excessiva, cara, documentalista. Centrada no trabalho dos funcionários especializados e separados do dia-a-dia pedagógico.
 Mínima. Qualitativa. Registra o processo do estudante, uma narrativa, coleta os traços, as pegadas do estudante no mundo do conhecimento. Pegadas da sua obra, de sua aprendizagem, de sua produtividade. Realizada compartilhadamente entre professores e estudantes.
Micro. Suficiente para atender as necessidades da estrutura nova.  Se concentrará no registro dos percursos de aprendizagem dos estudantes.. Mais importante será a estrutura de apoio logístico.
Estrutura Política
Centralizada, Hierarquizada, outorgando máximos poderes ao diretor e  colocando estudantes e pais na base da pirâmide. A estrutura de tomada de decisão é monolítica e centralizada. Separada da vida pedagógica.
Cuida do compartilhamento permanente das decisões. É plenamente deliberativa. Fundada na participação de todos os atores. Decisões são fluidas e fazem parte do processo de aprendizado. Todas as decisões podem ser revistas permanentemente. Voz e voto de cada ator tem o mesmo valor. A escola em todo o seu processo deve favorecer o aprendizado e a vivencia da ética como base das relações humanas.
Pertence à comunidade. Fundada na participação de todos os atores. A comunidade poderá estar constantemente reunindo-se para pensar e decidir que rumos dar na educação dos seus filhos, compartilhar percursos e ouvir histórias. Também para organizar reivindicações ao estado, à economia e a outras instancias.

Os estudantes poderão organizar-se  em comunidades virtuais e presenciais que serão foros permanentes de discussão política e epistemológica.

Estrutura Financeira
Fundamentada na perspectiva da escassez.  Professor é pago segundo o numero de horas de trabalho. Visão quantitativista, trabalhista. Exploração máxima do professor em sala de aula. Ou todo depende do setor público (Estado), ou todo depende do setor privado (pais).
Fundamentada na perspectiva da abundância. Professor é pago pela qualidade do seu trabalho: produtividade (grau de aprendizagem dos estudantes + capacidade de produção de conhecimento + qualificação). Economia mista (público+privado). Participação dos pais, Estado, empresas, comunidade). Cada um paga de acordo com suas possibilidades e capacidade econômica. O rico paga muito o pobre paga pouco ou é subsidiado segundo sua situação.
Financiada por todos os atores sociais: Estado, Mercado, Comunidade.
 Empresas podem investir na formação de grupos de crianças e comunidades específicas, de acordo com os interesses mútuos.
Será importante o investimento do Estado e das empresas e outras instituições em estruturas de apoio que fiquem o mais próximo de cada comunidade: bibliotecas, centros tecnológicos, laboratórios, auditórios.
A visão de uma “Cidade Educadora”obriga a pensar em investimentos nas ruas, no sistema de transito, nos parques,  centros esportivos e em todos os lugares que podem ser utilizados (paredes, túneis, metros) como meios de difusão conhecimento e de concentração de  pessoas.
Estrutura social e estrutura Etária.
Escola pública= escola para pessoas sem poder aquisitivo. Escola particular = escola para pessoas com poder aquisitivo. Incorpora preconceitos sociais, separa por classes, raças.
As crianças, adolescentes e jovens são divididas segundo suas idades, fazendo coincidir  para a maioria a relação idade-série.
Aproximação entre classes sociais, raças, religiões, etc. 
Não existe separação etária entre os estudantes.  De cada grupo que se instaura podem participar pessoas de diversas idades, basta que estejam na escola.  Pessoas de idades acima de 18 anos podem participar das atividades escolares dependendo de suas necessidades e interesses. Isso tanto de maneira regular como irregular.

Tem acesso a ela todos que entendam que a escola pode apoiar o desenvolvimento dos seus interesses de conhecimento. O compartilhamento de diversas faixas etárias será encorajado e apoiado. Da mesma maneira que será encorajado e facilitado  o encontro de estudantes de diversas condições sociais e posições geográficas dentro da mesma cidade.
Estrutura Temporal
Fundamentada no controle do tempo de presença. Horários de entrada e saída fixos e obrigatórios. Numero de aulas por semana. Numero de dias, semanas e meses fixos e obrigatórios. Presença  Física obrigatória.  Presença virtual inexistente. Numero de presenças contabilizado para aprovação/reprovação. O processo estabelece uma relação idade x série e deve terminar num ciclo igual para todos.
Fundamentada na qualificação da presença. Horários de entrada e saída fluídos. Livres.  Numero de atividades por dia, semana, mês, ano, livres e acumuláveis. Presença física opcional. Presença virtual opcional. Importa mais a qualidade da presença do que a quantidade da presença.  Preocupação com as ausências.
O processo temporal depende de cada estudante e de seu desejo de ir até um patamar de conhecimento mais complexo segundo seus interesses epistemológicos. Pode demorar mais ou menos tempo dependendo do que cada um procure. Termina quando o estudante se sinta competente para enfrentar a seguinte etapa de sua vida: a Universidade ou o mundo do trabalho. Assim cada percurso é diferente do outro em cada caso.

Esta aberta 24 horas por dia todos os dias do ano. Suas estruturas podem ser usadas plenamente por qualquer membro da comunidade. Sem distinção de idade, sexo, cor, etc.
Estrutura Didática.
Fundamentada na figura do professor e na relação numero de aulas x quantidade de conteúdo revisado.  Entende-se quantitativamente que o melhor é o maior numero de aulas e de conteúdo revisto. Concentração na sala de aula  e dentro da escola.
Podem participar todas as pessoas que possuam algum tipo de conhecimento pertinente e que desejem compartilhar seu saber com os estudantes (profissionais, trabalhadores, personagens da comunidade, funcionários públicos, empresários,  desempregados, velhos, crianças, etc. Trabalho individual, grupos de estudo segundo interesses, pesquisa, leitura, escrita e experimentação. Efetivação do jogo de produção do  conhecimento. Instauração de pequenas comunidades de produção de conhecimento. Movimento permanente entre escola e mundo. O valor fundamental da estrutura Didática deve ser a alegria.
Professores, possuidores de saberes diversos, empresas, instituições, Estado, e Universidades oferecem permanentemente apoio aos interesses epistemológicos, políticos, éticos, estéticos  vindos da comunidade. Se parte da idéia de uma “Sociedade Educadora”.
A cidade se torna, uma arena de trocas significativas de conhecimento. Será Possível encontrar professores nas praças públicas, conversando com os compradores no mercado,  orientando estudantes no trânsito, no meio da Bolsa de valores, dentro das empresas,  no lixão, nas instituições do estado, nas filas dos bancos, nas cozinhas de restaurantes e entrando aleatoriamente nas casas dos moradores, nos teatros, museus, exposições serão montadas em qualquer rua, qualquer passagem, qualquer comercio.
Estrutura epistemológica.
Conteudista. Curricular. Disciplinar. Com ênfase no conhecimento científico.  Centrada na revisão de uma infinidade de fragmentos de informação por disciplina.
Cada escola tem professores de todas as disciplinas contados individualmente.
Transdisciplinar, com ênfase em todos os tipos de conhecimento.  Centrada na aprendizagem de competências específicas para a efetivação do jogo de produção de conhecimento.
Professores vivenciam comunidades de conhecimento: cada escola concentra professores de uma determinada área de conhecimento. Ex: escola de exatas: concentra todos os professores das ciências exatas. Escola de ciências sociais: concentra todos os professores de ciências sociais. Escola de humanas: escola concentra todos os profissionais de humanas. Escola de artes plásticas: concentra professores de artes plásticas. Escola de musica: concentra professores de diversos instrumentos e modalidades musicais. Etc. Isto facilita a criação de comunidades de professores por área favorecendo o estudo, o compartilhamento e o funcionamento das comunidades. Assim, o estudante circularia por diversas escolas onde encontraria comunidades de professores para cada tipo de conhecimento.
Para os níveis superiores haveria escolas multidisciplinares e para os mais velhos escolas transdisciplinares.  A criança passará por elas na medida em que ganhe pericia no jogo do conhecimento indo no sentido da disciplinariedade, multidisciplinariedade e terminando na transdisciplinariedade.
Os professores, ao igual que os estudantes e as comunidades poderão transitar entre uma escola e outra de acordo com seus interesses e necessidades epistemológicas.
Similar à estrutura descrita no novo modelo. Cada escola será um centro de produção de conhecimento: disciplinar, ou transdisciplinar e poderá atender os interesses de quem, na comunidade assim o desejar. Assim a plasticidade epistemológica deve ser total: a escola deve apoiar qualquer desejo de aprender por parte de quem assim o demandar em qualquer sentido. Neste modelo a liberdade epistemológica deve radicalizar-se de maneira a que cada um possa realizar o percurso que melhor lhe permitir desenvolver sua personalidade e interesses, tanto no individual como no coletivo.

O percurso será mais individual  em alguns casos, mais grupal em outros e até comunitário em outros, dependendo da organização dos estudantes em torno de suas necessidades.

A intervenção da Comunidade Científica e das comunidades de produção de conhecimento será importante no sentido de engajar toda a sociedade no processo de produção de conhecimento.
Estrutura de apoio.
Em geral uma biblioteca bastante incompleta com livros de muitas áreas. Um laboratório de informática para poucos estudantes. Laboratórios.
Campos esportivos.
A escola = a estrutura de apoio. Biblioteca segundo a área disciplinar da escola. Assim, se a escola é concentrada nas ciências exatas, ou ciências da vida, então a biblioteca terá tudo que for possível que atenda as ares dessa concentração disciplinar. Igualmente, toda a escola estará conectada a internet. A escola será um grande laboratório segundo a área. Toda escola terá espaço para recreação. Mais existirá uma escola dedicada exclusivamente aos esportes., saúde, cuidados do corpo.
Biblioteca, Internet de boa qualidade, laboratórios, espaços de reunião, logística. Mais que escolas será importante construir uma rede de bibliotecas de alto padrão. Com todo tipo de serviços para a comunidade. Será necessário pensar num serviço público ou privado de baixo valor e alta qualidade de internet que seja instalado como a água, o esgoto ou a eletricidade, em todas as casas, de maneira a favorecer o acesso, o contato, a comunicação e a publicação de cada membros do coletivo e de toda família em última instancia.
Relação Professor- Aluno
Hierárquica. Professor possuidor de conhecimento.  Estudante desprovido de conhecimento. Professor dita aulas, estudante recebe aulas. Professor ativo, estudante passivo/reativo. Professor autoridade – estudante dependente.
Professor como animador do jogo do conhecimento. Estudante e professor engajados na descoberta de respostas a problemas de estudo em cada área.  Professor e estudante desvendam segredos e topam desafios de aprendizagem.  Os dois atores estão aprendendo com o processo vivido na efetivação do jogo do conhecimento.
O professor será um animador e um orientador do estudante diante das suas necessidades de conhecimento.  Mas que uma pessoa que se dedica a ensinar, será uma pessoa que se dedica a aprender junto com o estudante. O elemento principal do seu tempo será  dedicado a aprender e a pesquisar. Sua relação com os estudantes e famílias ou comunidades, será marcada pelas necessidades de uns e outros.  Alunos  e estudantes se procurarão mutuamente.  Possivelmente, os professores não estarão confinados dentro das escolas mais que grupos deles estarão visitando as casas, as comunidades, as empresas, animando os estudantes onde quer que estes se encontrem.
Será possível que muitos professores assumam o papel de Tutor.  Desta maneira sua função será cuidar de um número determinado de crianças (não superior a 15), assim poderá dedicar um tempo específico a cada uma delas e promover o encontro entre elas. Se papel será o de encaminhar soluções específicas aos problemas e interesses de aprendizado desse grupo específico de crianças e de suas famílias. Os pais dialogarão permanentemente como ele e negociarão os encaminhamentos.
A figura do Tutor deve ser  paga pelo Estado e terão acesso a ele igualitariamente todos os interessados, senão todos os estudantes. Outra função será o apoio na canalização da informação necessária para a o histórico de aprendizado de cada estudante nos repositórios virtuais.
A relação entre estudante-familia-tutor deve ser uma combinação equilibrada do presencial e do virtual.

Relação pedagógica escola-comunidade.
A escola concentra o processo sobre si mesma como espaço de aprendizagem. Utiliza a comunidade apenas como um objeto passivo.
Continuidade entre a escola e a comunidade como espaços de aprendizagem.  Isto inclui, município, ou comunidades, espaços  públicos e privados, empresas, bibliotecas, oficinas, casas, parques, etc.
Será uma relação simbiótica. Será a construção de uma comunidade em atividade educadora permanente. Por tanto a escola será a própria comunidade.
Estrutura de avaliação.
Fundamentalmente quantitativista com traços qualitativos. Centrada na verificação de memorização de conteúdo.  Não privilegia a produção de conhecimento.  Aprova ou desaprova. Termina quando o ciclo formal termina.  Independente do aprendizado, se o estudante alcança os resultados mínimos requeridos matematicamente, recebe um certificado de conclusão de curso.
As fraudes, comuns neste modelo, são castigadas como problemas disciplinares.
Centrada na verificação de aprendizagem de competências na efetivação do jogo do conhecimento. O estudante e o professor, sabem participar eficazmente de comunidades produtoras de conhecimento. Também observa o conhecimento produzido: escrita, pesquisa. Para o qual ritualiza os mesmos procedimentos da comunidade de referência.   Se concentra nas necessidades de aprendizagem do estudante até superá-las. Termina quando o estudante se sinta capaz de ir para a próxima fase de sua vida: ou a formação universitária, ou técnica ou a vida profissional. Ele recebe um histórico do seu percurso epistemológico que será analisado em cada caso ou pelo mercado de trabalho ou pelas instituições de nível superior .  A presença de casos de fraude será entendida como uma falha na relação professor – estudante. Se entenderá que a aproximação entre esses dois atores é insuficiente ao ponto de abrir espaço para que o estudante  opte pelo uso de expedientes contrários à ética própria do campo epistemológico.
O estado pode dispor de um sistema que receba informação de cada estudante e grupo de estudantes, um repositório de conhecimento produzido por cada um, ou por cada coletivo.   Entende-se que o centro deste modelo é a aprendizagem real por parte do estudante. O quanto e a qualidade do conhecimento que ele incorporou será testado permanentemente na vida profissional. Um sistema de competências para o exercício de cada profissão deve ser desenvolvido pelo estado. Ex: exame da OAB. Cada empresa pode fazer o mesmo quando precise de contratar um determinado profissional .  Da mesma maneira a possibilidade de assumir cada vez maiores responsabilidades profissionais deve depender da permanente aquisição de novos conhecimentos pertinentes com os cargos.

A aquisição de conhecimentos novos não precisa estar atrelada ao mundo profissional. Pode ser apenas como uma realização pessoal, um desejo de saber e de ampliar os horizontes pessoais. De igual maneira, uma comunidade pode identificar uma necessidade de conhecimento coletivo que alavanque um problema  compartilhado.

Não será necessário um sistema de certificação. As competências necessárias  passar na universidade, por exemplo, podem ser verificadas pela instituição ao conhecer o histórico do aspirante. A Universidade pode propor ao estudante inscrever-se em um determinado curso e não em outro de acordo com o que o histórico de cada um permita perceber em termos de vocação e competências. Um determinado estudante poderá não ser aceito se a instituição entende que ainda deve alcançar patamares mais avançados em determinadas áreas de conhecimento.
Estrutura tecnológica
Mínima. Raro uso de novas tecnologias. Usos restritos e viciados (cola e copia) da internet.
Fundamental no processo como um todo. A escola deve estar em rede e participando das diversas comunidades de conhecimento pertinentes. Usa as redes sociais e a internet para favorecer o diálogo dos estudantes, professores, outros participantes e comunidade com as comunidades de conhecimento. Usa a internet como plataforma de pesquisa, dialogo e publicação. Toda a produção do estudante, do professor, dos grupos de trabalho e da escola deve ser disponibilizada na rede. O trabalho objeto da fraude não poderá ser publicado  nem incorporado no histórico do estudante nem do professor.
Será necessário contar com acesso ao uso de internet para toda a sociedade.  Também a outras tecnologias que podem ser fornecidas ou emprestadas por empresas.  Pontos de entrada à internet públicos, painéis de informação nas ruas, parques e locais coletivos.

De igual maneira os canais de televisão e diversas emissoras de rádio serão importantes neste modelo social de educação.  A programação da televisão deve ser voltada para a formação de todo tipo de público.  Com participação abrangente do mesmo público.  Canais públicos municipais, estaduais e nacionais serão importantes. Emissoras de rádio também. E a utilização e divulgação dos canais desses conteúdos na internet também será fundamental.
Muitos professores se tornarão produtores de conteúdo para todas as mídias disponíveis.
O elemento fundamental será a disponibilização de conhecimento gratuito e de fácil acesso para toda a sociedade.
Estrutura Disciplinar.
Centro de todo o processo. O controle do comportamento absorve a maior parte da energia institucional e dos atores concentradores de poder dentro da escola.  Restrição de tempo, de movimento, de fala, de estilo, moral e ideológica estabelecidas explícita e implicitamente. Premio e castigo são fatores explícitos na estrutura escolar.  Professor, coordenador e diretor operam no papel de policiais, juízes e  detetives. Parte do processo burocrático é disciplinar. Visa a domesticação e uniformização do comportamento do estudante reduzindo-o a um determinado patrão supostamente correto.  As punições podem ser leves ou graves chegando a expulsão.


As regras são estabelecidas pelos diversos grupos de trabalho. São permanentemente negociadas. O papel do professor  é de moderador , não de operador das regras. Os casos necessários de intervenção serão entendidos não como problema disciplinar. Individual..mais  se será necessária uma aproximação a: a dinâmica do grupo, à história pessoal do estudante,  a sua situação em sentido amplo, a novas possibilidades de aprendizagem nas relações do grupo ou do indivíduo. Se for necessário a escola deverá prover atendimento psicológico,  médico, social, ao indivíduo ou ao grupo e ou às famílias dos envolvidos. Se entende que punições inexistem neste modelo.
O cuidado com o comportamento do estudante fica a cargo da família. Cada família deverá negociar e estabelecer um certo ritmo de trabalho com a criança e cuidar para que este seja cumprido dentro de suas possibilidades.

Um outro nível é o que diz respeito da relação entre o estudante, os trabalhos que ele publica no seu histórico. Este exercício deve estar pautado pela ética da produção de conhecimento, no sentido específico de que cada trabalho deve ser realmente obra do autor. Ali deve ser consignado o verdadeiro aprendizado dele.
Estrutura de relacionamento com a comunidade científica.
A escola funciona de maneira isolada da comunidade científica. A relação Universidade –escola é casual e desenraizada. A Universidade avalia o  estudante que vem das escolas de maneira quantitativa e universal.
A relação comunidade científica escola deve ser umbilical. Os professores da escola devem ser estudantes de pós-graduação e ativos produtores de conhecimento. A universidade deve reconhecer esta estrutura escolar e seus resultados. Deve avaliar as competências adquiridas por cada estudante de acordo com seu interesse epistemológico.
A comunidade científica deve estar permanentemente aberta a receber estudantes como estagiários, como observadores, como aprendizes. Também deve  realizar diversas atividades de apresentação dos seus trabalhos e pesquisas perto das comunidades. Os estudantes que resultarem mais engajados e demonstrem interesse encontraram por esta via o ingresso à universidade mediante indicação.
Estrutura de relacionamento com mercado.
A escola funciona de maneira isolada do mercado e da economia. Espera-se que o mercado receba o resultado do processo escolar, porem as empresas não participam deste afetivamente.
Empresas públicas e privadas de todos os ramos do conhecimento abrem suas portas para os estudantes durante seu processo educativo. Oferecem treinamentos de diversas ordens de acordo com os interesses epistemológicos dos estudantes e professores.  São partes da história de cada estudante. Vão à escola a fortalecer processos ou a responder a interesses de grupos específicos. Financiam processos, pesquisas, estruturas físicas, etc. Contratam estudos, contratam professores, contratam estudantes em diversas modalidades. Avalia competências, demanda competências.
A relação empresas (micro-macro em todas as ares da economia) é importante. O campo da produção deve se mostrar aberto a ensinar as competências necessárias a quem deseje aprender. As empresas poderão selecionar e até remunerar quem considerem  apto.

A relação empresa-universidade também será fundamental e o transito de estudantes entre uma e outra será um eixo importante, no tema da empregabilidade tanto como no tema da inovação.
Estrutura de relacionamento com as comunidades.
Nas escolas públicas vem se incorporando à necessidade de uma relação cada vez mais profunda com as comunidades, porém em geral em nenhum caso se chega com elas à discussão dos elementos centrais do processo escolar. As comunidades são apenas legitimadoras passivas das decisões da escola. Em muitos casos contra os estudantes. São comunidades que fortalecem a visão disciplinar na escola.
No caso de escola privadas, a comunidade é apenas pagante.
A relação com as comunidades deve ser total. A comunidade é a escola e vice-versa. Ela participa em diversos níveis: tanto no econômico, no logístico, no político como, e especialmente no epistemológico.  A escola não é separada dela, mais é dela. O governo da escola deve estar nas mão dela.
Deve existir uma rede de interesses que envolve o estudante, sua família e a comunidade em que vive.

As comunidades podem ser ponte de relacionamento entre essas instancias e o Estado e as empresas e as Universidades.
Estrutura de relacionamento com o poder público.
De dependência absoluta. De subordinação absoluta.  Em todos os sentidos.
Escola, comunidade, mercado, universidade e estado devem estar sempre em rede, é nos nodos constituídos por essa rede que funciona a escola.
Estudantes, famílias e Estado devem estar em permanente relação. Uma relação construtiva, de dialogo, de efetivação de direitos e de cuidado dos deveres, de tomada de decisão.
Finalidade da escola.
A escola visa graduar pessoas, certificar, transmitir conhecimentos, capacitar para o vestibular e para o mundo do trabalho.
A escola visa o crescimento espiritual, social, epistemológico, político, cultural e econômico de cada individuo, e comunidade. É um lócus social, que favorece o aprendizado ético, estético, lógico e tecnológico. Visa dar ao individuo elementos de  constituição de uma vida plena.
Nesta perspectiva se entende o aprender como um eixo de relacionamento entre individuo - família, comunidade –sociedade - economia-universidade y estado. A realização do indivíduo em seu sentido mis singular e social passa pelo seu aprendizado. É o que ele aprende que ele projetará nas demais instancias da vida.



Um comentário:

  1. Olá Edilberto e Tatiana!
    Concordo mesmo com este modelo e penso sim que não será uma utopia e que com alguma divulgação poderá entrar no coração de muitos e tornar-se uma realidade.
    Chamo-me Isabel e pratico ensino doméstico (a designação legal cá em Portugal) com o meu filho mais novo, hoje com 8 anos, desde que ele nasceu. A legislação cá permite que o tenhamos inscrito na escola próxima da nossa casa, em regime de ensino doméstico e ele fará um exame no final do 4ºano de escola para poder passar para os seguintes. Não é bem o que gostaríamos, pois nós somos adeptos do Unschooling tal como foi preconizado por John Holt, isto é, não haver obrigação de seguir qualquer currículo e a criança ir progredindo de acordo com os seus interesses e características, tal como vejo possível através do vosso modelo. Também a questão da avaliação é para nós um ponto muito importante e estes exames a que ele fica sujeito não têm nada a ver como que sentimos ser melhor para o desenvolvimento de cada um, a avaliação nunca deveria ser quantitativa, para mim, até nem seria necessária nunca.
    Permitem-me que num futuro post no meu blog (http://escolabela.wordpress.com)coloque um link para este vosso artigo? E que também o divulgue (colocando igualmente o link que dirige directamente para este vosso post) em dois grupos no facebook aos quais pertenço e que tratam destes assuntos, o grupo Ensino Doméstico e o grupo Aprender Sem Escola?
    Muito obrigada e um grande abraço
    Isabel

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