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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Mensagem aos pais depois da primeira viagem da NOVAS RAIZES a Terra Ronca – Goiás.

Como parte da experiência da Novas Raízes, a primeira semana de fevereiro de 2010, a turma realizou uma viagem a Terra Ronca. A intenção era quebrar o fluxo normal da consciência escolarizada da turma. Enquanto milhões de estudantes passariam a primeira semana do ano sentados ouvindo seus professores, os membros da Novas Raízes, viveriam uma experiência num território que os colocasse frente aos primórdios da Humanidade, Terra Ronca: Cavernas, pinturas rupestres, natureza.
O texto a seguir foi escrito na chegada da turma durante a segunda semana da experiência.

Salve amigos e irmãos das Novas Raízes,

Quero trazer a tona algumas das nossas discussões do semestre passado. Em particular, algo que foi dito sobre este primeiro momento: ele não seria fácil. Nós, os adultos passamos meses tentando esclarecer-nos...o fizemos a partir da prática do diálogo, da discussão, do debate. Foi difícil....porém nossos filhos pouco participaram efetivamente desse processo. É a vez deles viverem esse processo de esclarecer-se. Nada fácil, mais ainda se enquanto pais e mães estamos predispostos a satisfazê-los.

Eles viveram o mundo da escola tradicional durante os anos mais frágeis da auto cosnciência. Durante esse tempo suas almas foram moldadas. Penso aqui numa cena que vivemos, a Liu e eu, na casa da Leena, a noite do filme antes da partida. Na mesa de jantar ela, eu e o João Miguel discutiamos a revolta dele. E ele argumentou assim: " eu gosto de ir pra escola. Gosto de chegar, encontrar meu professor e prestar atenção a o que ele fale". Para mim essa é uma síntese: ele, e todos os outros foram apanhados pelo modelo escolar vigente. Esse é o espelho no qual eles se sentem normais, incluídos, integrados. Mais ainda na idade em que se encontram, a adolescência. Momento da vida em que lutam para desvincular-se da identificação com a mãe e entendem, ingenuamente, que o que o mundo lhes apresenta é tudo o que eles devem ser: colégio, shopping, moda, consumo, etc, etc.

Eis o nosso desafio. Eles, a diferença de nos, não estão dispostos a desconstruir o mundo. O mundo é belo para eles. E o mundo sabe que para sobreviver, precisa conquistar a alma deles. E isso, o mundo e todas as suas instituições, sabem fazer muito bem. Nosso desafio consiste em conseguir que eles possam enxergar a diferença entre eles e o mundo, que eles enxergem a singularidade deles.

Natural que estejam confundidos e desconfortáveis. Bom sintoma. Significa que de fato, estão diante de elementos que os colocam fora da sintaxe tradicional. Porém, temos que estar cientes disso, de maneira a termos o devido cuidado. O que estariam vivendo na escola tradicional, seria conhecido por todos nós. Durante as primeiras semanas estariam espreitando a cada professor perguntando-se como devem ludibria-lo, de maneira a poder fingir que aprendem e o professor poder fingir que ensina. Esse roteiro não é possível na atual circunstância. As rotinas necessárias para que isso ocorra, simplesmente foram eliminadas. Deve vir um momento de grande revolta, urgência de fuga. Como disse o Kapish, devem "tocar o terror". Em outras palavras, eles devem sentir-se fora do mundo.

Eles esperam que o professor lhes diga o que devem fazer. Nós devemos perguntar a eles o que querem fazer. Esse é o elemento fundamental. Nós não temos respostas, não temos planejamento, não temos plano formal.

Basicamente porque acreditamos que devem ser eles que devem formular as perguntas. Por isso o primeiro foi sacudí-los a partir de diversas experiências de mundo. Por isso a viagem, a UnB, a Cafuringa. Agora é o tempo de colocá-los no pior dos desconfortos: o que vocês, filhos, querem saber?, O que lhes interessa? Qual rumo desejam percorrer a partir do conhecimento?

A resposta não deve vir imediata. No começo, será irônica, mais um refugo, uma reação, um berro. Os interesses deles apareceram pequenos, ingênuos, desinteressantes. É o que corresponde as aves de voo curto. Compete a nós, tomar com extrema seriedade cada coisa positiva que eles coloquem. Cada deixa que nos dêem sobre o que lhes interessa, devemos traduzi-la em uma ponte a ser construída. Devemos ter como mostrar-lhes que uma pergunta simples acende o fogo da complexidade universal. Lança-los assim uma abundância tal de possibilidades que eles possam perceber que a escola tradicional, nunca poderia oferecer-lhes tanto. E tudo isso em meio a ludicidade, descoberta e curtição.
Façam vocês as contas: enquanto os meninos em escolas tradicionais passaram a primeira semana, ouvindo seus professores, no que corresponde a uma 25 horas. Nossos filhotes viveram 7 x 24 horas de intensidade em Terra ronca, mais horas na UnB e ainda um dia na Cafuringa. Caramba!!!

Estamos indo bem. Penso chegado o momento de coloca-los diante a necessidade de se perguntar sobre o que querem empreender como aventura de conhecimento: que pensem sobre isso, que discutam, que escrevam, que sofram um pouco com isso.

A nós cabe, estar espreitando-os, observando-os, sentindo-os, de maneira a sermos muito certeiros ao capturar dicas de por onde poderemos avançar.

Compete a nos ouvir o desconforto deles e responde-lo pertinentemente.

Dizer assim, filho, agora é com vocês, não vai ter professor pra lhes dizer nada, são vocês que devem demandar, dizer, perguntar.

Eles devem tocar o terror, sim, de uma maneira diferente: explorando interiormente até descobrirem o que os interessa. Se a resposta é, a necessidade de fuga para o ventre-escola tradicional, vamos desiludí-los: esse é o caminho fácil meu filho, mais verdadeira é você querer saber o que de fato lhe interessa.

Bom vento e bom mar, marinheiros!!!!!!!
Edilberto

Eles foram tocados pela mãe terra,
pela agua, pelo ventre das cavernas
foram abraçados pelo sol do meio dia
a lua e as estrelas beijaram seus sonhos
seus olhos caminharam milénios
sobre os traços de outros homens
e suas almas agora estão infectadas
Que venha o tempo do desconcerto
que venha o tempo inaugural
o tempo das grandes perguntas!!!

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