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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O início de um diálogo

A professora Debora Maria Macedo  nos enviou o comentário abaixo. O postamos aqui, como um convite a que diálogos como este sejam fonte de inspiração e de construção coletiva. Também postamos a resposta que lhe enviamos via e- mail:


Edilberto e Tatiana,

Sou professora (seja lá o que isso signifique) da rede municipal de ensino de São Paulo e percebo que há certa lógica na ideia de que o mundo parece estar fora das escolas. Concordo, SIM, que educação transcende a instituição ESCOLA e que qualquer lugar e qualquer momento são oportunidades de aprendizagem e que todos nós somos sujeitos nesse processo.

O post acima (O velho paradigma é a escola) está recheado de temas para reflexão, mas de alguma maneira temos que começar:

“O que estão fazendo aqueles que tiveram coragem de educar seus filhos fora da escola?”

Tenho muita curiosidade nesse sentido. Quem são essas pessoas? Como “ganham suas vidas”? A que esfera social pertencem? Como fazem dar certo? E, principalmente, o que seria esse “dar certo” em uma perspectiva “desinstitucionalizada”?

Peço que me ajudem nessa reflexão, pois, profissionalmente, estou imersa no seguinte recorte de realidade: uma escola pública com grande número de alunos, dentro de uma comunidade bastante carente; com salas superlotadas, mas com alunos frequentes em função dos mais diversos mecanismos de garantia de acesso e permanência (bolsas, leite, alimentação...); famílias com as mais diversas formações que englobam indivíduos que desempenham papeis sociais diversos dos tradicionais “pai” e “mãe” (na maioria das vezes são tios, avós, primos, padrinhos, irmãos mais velhos que se responsabilizam pelos estudantes); estudantes que, por vezes, encontram na escola um refúgio de uma realidade muito pior que a “reclusão escolar”.

Penso de que maneira desinstitucionalização poderia atuar nesse recorte de realidade. 



A resposta:


Estimada Professora Débora,

Você fez as perguntas certas. É para essa realidade que temos que voltar-nos. Porque essa  é a realidade de milhões de crianças no Brasil e no mundo. E também de milhões de professores e de pais de família. O consenso cresce nesse sentido. O modelo escolar não consegue cumprir o que promete. A sociedade como um todo não recebe o que precisa das instituições educativas, em nenhum nível. E o mundo depende cada vez mais de pessoas capazes de responder à complexidade dos atuais problemas sociais, econômicos, políticos, ambientais, etc.  Nem mesmo em nível pessoal, as instituições respondem às demandas dos indivíduos. Não sabemos viver. Somos confusos, desarticulados, somos insustentáveis, como pessoas e como coletividades. 

Assim como o sistema econômico dominante não responde mais aos desafios do nosso tempo histórico, nem o sistema político responde mais aos anseios democráticos das populações, a escola, como locus do sistema educacional, não consegue responder às necessidades instrucionais, formativas, informativas das novas gerações. Nem mesmo o modelo de família responde.

Diante da derrubada desses velhos paradigmas somos compelidos a fazer-nos uma vez mais as perguntas fundamentais e a tentar responde-las. Temos  que inventar um mundo novo. E para ele, ninguém tem as respostas definitivas. 

Por isso professora Débora a única resposta que temos é este convite ao diálogo, a criatividade, a invenção. Professores, pais, estudantes, empresários, gestores públicos, temos que reinventar a educação. Não apenas fazer um movimento de reforma escolar. Precisamos inventar novos paradigmas, mais ousados, mais criativos, antenados com o desenvolvimento científico e tecnológico. Antenados com a abundância de conhecimento que hoje é possível compartilhar e produzir. Antenados com as urgências do nosso mundo e o nosso planeta. 

Hoje podemos ir tocando esse diálogo sem a intermediação de instâncias de poder verticais. Se mais e mais atores participam desse dialogo horizontal , se mais e mais pessoas e grupos ousam viver e experimentar, si mais e mais coletivos ousam conectar-se, sem preconceito, sem jogo de poder, sem outro interesse que a nossa urgência de estar vivos e atuantes na nossa história, então teremos a chance de ir construindo essas respostas.

Propomos o seguinte: vamos fazer das suas perguntas para nós, perguntas para todos os que queiram participar desse diálogo, e vamos ir tocando esse diálogo amorosamente até ver como isso constrói opções de resposta, ver como isso ilumina processos e respostas em andamento.

Não estamos mais no tempo em que um especialista tinha a resposta única para um problema. Esse é o velho paradigma. Estamos diante a imensa porta da construção cooperativa das respostas.

Edilberto - Tatiana





3 comentários:

  1. Olá a todos, muito bom este post, o assunto é de extrema importância e aqui no Brasil, pelo fato de as famílias adeptas da ED e/ou Desescolarização estarem um tanto "escondidas" por causa da falta de regulamentação, parece que o assunto inexiste ou é muito novo. Não é. Na verdade a institucionalização do ensino escolar veio depois, na maioria das comunidades, como um efeito do aumento populacional, do aproveitamento da mão de obra feminina, entre outros motivos. A aprendizagem/educação domiciliar veio bem antes, foi na verdade a forma natural de escolarizar por séculos, e hoje ainda acontece em muitos lugares.

    Gostaria de expor algumas idéias: o Estado, sistema, o que for, não está muito comprometido com certos aspectos humanos (autoconhecimento, evolução). Nota-se pelo conteúdo das leis, dos documentos, dos currículos apresentados, que devem ser seguidos obrigatoriamente. Junta-se a isso o fato de os alunos de ontem serem os pais (ou adultos em geral)de hoje e podemos chegar à conclusão que está ocorrendo uma repetição, um ciclo. A (tentativa de) robotização será perpétua se não quebrarmos o ciclo. Apesar de ser capaz de ordenar pensamentos, agrupar símbolos e articular sons (escrita, leitura e pronúncia) e da posse do livre arbítrio - que não é usado efetivamente - o ser humano ainda é um animal, doutrinável, influenciável - pela família, pelo meio, pela mídia... Aí já é outro assunto importante, mas não cabe abordar no momento.
    Outro aspecto que gostaria de expor, é que a Desescolarização ou ED é apenas mais uma opção de educação, e não é porque muitas pessoas as apoiam/adotam que todo mundo vai ter que seguir também. Nem todas as famílias tem condições, ou vontade, ou capacidade para assumir tal tarefa, e além disso muita gente ainda acredita na educação institucionalizada.
    Tenho opiniões bem radicais quanto à educação e sou uma mãe que está desescolarizando-se e educando um filho em casa. Poderia falar mais de nossa realidade, talvez por e-mail, e garanto que educar em casa não é um bicho-de-sete-cabeças, muito ao contrário! A vida é simples quando se acorda para as ilusões em que querem que acreditemos.
    Desculpem se o texto ficou incompleto ou confuso, na verdade o assunto é vastíssimo e tentei resumir ao máximo para não virar um livro... Mas podemos também tomar o exposto como início de outras considerações.
    Obrigada pela atenção! Abraço!

    cassia

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  2. Gostaria de acrescentar que não é admissível vetar às famílias que são capazes de educar os filhos em casa, sem o "dedo" do Estado (seja lá por qual motivo) o direito de assumir a tarefa. Muitos realmente não têm condições ou não querem, mas muitos querem, e nossos empregados - os políticos - têm a obrigação de legislar para todos, afinal ganham muito bem para isso. Maioria ou minoria, não está em questão aqui a validade do método por conta da quantidade. E quanto à qualidade, só vejo vantagens na ED.
    A vida humana vale muito mais que isso, estamos lidando com nada menos do que o futuro da humanidade. Eu não abro mão de seguir minha consciência por causa de letras num papel, é absurdo isso, precisamos acordar.

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  3. oi Cassia, estou ha 4 anos com filhos fora da escola e ha mais de 10 anos me desescolarizando, por isso ja tinha sentido uma grande alegria quando conheci (mesmo que virtualmente) Edilberto e Tatiana, e agora ao ler seus comentarios, outra enorme alegria me atravessou!
    alem dos meus filhos, felizes fora da escola, também me reuno com outras familias em são paulo, onde moro, assim como 12 cidades que visitei esse ano para encontros desescolarizantes. Vamos entrar em contato? meu blog é http://anathomaz.blogspot.com e meu e-mail é anavidaativa@gmail.com. grande abraço

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