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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Manual de sobrevivência para unschoolers

Cada vez mais famílias percebem que é absurdo manter o padrão de negligência adotado pela imensa maioria diante do que ocorre com a educação dos filhos dentro das instituições escolares públicas e privadas.  Isso significa que a cada novo ano escolar mais pais e mães estão assumindo de fato a responsabilidade pela educação dos filhos. E assim, são cada vez mais as crianças que estão sendo desescolarizadas. Esse é um momento muito...muito crítico. É o momento de sair do aquário. De descobrir que é possível navegar na imensidão do oceano do conhecimento e não naufragar. Mas a verdade é que muitos dos que se aventuram terminam naufragando, justo no início.  

Por isso ficamos pensando em algumas dicas de sobrevivência colhidas da experiência vivida com os nossos filhos e de muitos outros unschoolers amigos e ou desconhecidos. Vai aqui uma tentativa de um manual de sobrevivência para unschoolers.  O ideal é que possamos complementá-lo permanentemente com a participação de todos os que hoje vivemos processos de desescolarização...assim pois, serão bem-vindas todas as idéias, dicas e questões que possam enriquecer este instrumento de navegação para principiantes!!!





1. Todo mundo caminha no mesmo sentido e eu....não.

A gente precisa de  sentido em tudo que faz. E foi por isso que uma hora arranjamos coragem e tiramos o filho da escola, por que essa instituição e todos os seus métodos, processos, regras e modelos, não faziam mais sentido. Quando um ser humano insiste em trilhar um caminho que não faz sentido, ele esta perdendo tudo o que o torna especificamente humano. Porém, ocorre que uma vez fora da escola...a percepção que se tem é que o mundo inteiro está indo num sentido determinado e nós não. Isso pode resultar algo difícil de processar.  

2. Não evite a queda. Navegue nela.

A sensação, por tanto é de queda. De perda. Em muitos casos pode ser terrível. Realmente angustiante. Mas, por incrível que pareça esse é um bom sintoma. Significa que você iniciou o processo de desinstitucionalização. Isso não é para muitos. Você estava parado na beira do rio segurando num poste imóvel, agora se soltou e o fluxo d'água o está levando. Percebeu? É você que está se movendo, e não o poste que segurava...embora a sensação seja a de que o poste vai a toda velocidade e você está perdendo. Evite querer voltar para o poste. Vire-se e nade a favor da corrente de água... agora você tem a onde ir,  agora você pode escolher, agora você perdeu a ancora e está navegando...no mar do conhecimento. 

3.  Você não está louco. Apenas recém acordado.

De lá do poste, todos os que nele se seguram, vão gritar desesperados. Acham que você vai se afogar. Acham que você se enlouqueceu e que fez isso inconscientemente. O barulho vai ser grande...tão grande que lhe faz sentir medo e confusão. São tantas vozes falando ao mesmo tempo, dizendo que você está errado, que vai ser sempre muito difícil não ter aquele momento de desespero..."e se estou errado?".   

4.  Competir com a escola é como querer vencer o Titanic.

A tentação que toma conta de muitos de nos que iniciamos este processo de desinstitucionalização é a de querer competir com a escola. Então, logo vamos nos aparelhando com livros de texto, currículo do ano puxado de algum lugar com autoridade, melhor se é de um especialista, e começamos a ler tudo e a comparar tudo e  nos sentimos  pequenos diante de todo o que a escola faz, e faz muitas coisas que não temos nenhuma condição de fazer.  Ela é um Titanic...e nem ela nem nós percebemos que ali na frente tem um ice berg gigante. Nos parece que pulamos do barco na hora errada e que agora vamos ficar ali perdidos no meio do oceano sem fôlego para a grande empreitada....Não sabemos que um pouco mais adiante o Titanic afunda. 

5. É isso, você quebrou o vidro.

É verdade...você quebrou o vidro. Isso faz barulho, pode até cortar, mas, é assim mesmo quando a gente quer olhar e ver com os próprios olhos o que ocorre além das fronteiras que sempre nos obrigaram a respeitar como sendo intransponíveis. Você rompeu com um paradigma vigente. Poucas vezes na vida a gente faz algo assim. Imagine  Colombo indo além do horizonte conhecido...o que ele encontrou foi que não existia abismo nenhum esperando para devorá-lo.  E sim um mundo novo de possibilidades. 

6. Pronto, agora está matriculado na escola das incertezas.

Você vai ver os olhos do seu filho perguntando a cada dia...e agora? E agora? Como Colombo, você não vai saber responder todas as vezes. Vamos continuar até encontrarmos terra firme, ele respondia. Mas como você sabe que vai ter terra firme? Perguntavam seus marujos. Eu não sei, respondia ele.    Sócrates já chamava a atenção para o fato de que todo aprender se fundamenta no reconhecimento de que nada sabemos. Por tanto, é nesse ponto, que estamos melhor situados para iniciar a caminhada!!!

7.  Ei!!! lembre de trocar o óculos velho!!!

Você agora é um pai interessado em que seu filho cresça aprendendo o que lhe interessa. Então, não olhe para ele com a mesma lente que usa a instituição escolar.  Se você insiste em ser o Professor Universal dele, ou então em ser você uma escola completa...lamento...você está usando o mesmo óculos.  Talvez precise perceber que sua preocupação é mais a necessidade de controlar mais de perto seu filho(a).  É hora de parar e pensar consigo mesmo: eu quero dar ao meu filho(a) liberdade para aprender ou quero apenas ter o controle absoluto sobre sua vida. Você vai saber a resposta em um segundo. Se a resposta é a segunda...comece o processo de desescolarização por você mesmo. Jogue fora seu óculos velho!!

8. Se tudo que faz da errado, então está certo

As instituições nos tornaram estúpidos.  Caminhamos sobre os trilhos que elas nos oferecem. Olhamos através das lentes que elas nos impõem. Elas se organizam para que nos mantenhamos dependentes. É assim em todas as áreas da vida. As instituições nos ensinaram a depender de especialistas para todos os aspectos da nossa vida, a saúde, o direito, a moradia, os sentimentos, e também, é claro, para a educação. Então, quando quebramos o vidro do aquário....é isso mesmo, fazemos tudo errado.  Somos patéticos as vezes. Mas que ótimo...é nesse mesmo instante que começamos a aprender!!!! Porque tenha certeza disso: Não se desescolariza um filho sem ter de aprender junto com ele tantas e tantas coisas!!!

9. Esqueça o castelo de areia

A escola é como um castelo de areia. Vem uma onda, sobe a maré e...tchau!, lá se vai o nosso castelo. Mas o que queríamos com a educação dos nossos filhos não era bem isso! Queremos bases sólidas, fortes, que lhes sirvam para a vida toda. Certo? A escola é como um bem de consumo...é obsolescente. E nos buscamos o que permanece...inclusive aquilo que os ajudará a ser nos tempos de mudanças. Então, é simples...vire-se procure terra firme e comece a construir no espírito deles uma fortaleça feita de conhecimento...será o que eles realmente aprendam o que lhes permitirá ir pelo mapa infinito da vida!!.

10. Calma...primeiro aprenda a nadar

Uma vez fora da escola...o primeiro a ser estudado, aprendido, trabalhado é....tudo aquilo que nos permita desinstitucionalizar-nos e sentir-nos bem. Conquiste um lugar de certeza dentro de você e na alma dos seus filhos. Esqueça por algum tempo o corre-corre atrás de conteúdos...o primeiro tempo dedique-o a aprender de você, de seus filhos, de como as instituições permearam suas vidas, dos medos que tudo isso causa, da incerteza que dá, do tempo que agora tem, da perda de rotinas, da delícia de ter todo esse tempo... e sobre tudo....a de reencontrar o desejo de aprender. 

Lembre, a escola está apenas num lugar e o conhecimento está em todos.





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