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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Serão as crianças que aprendam as que mudarão o mundo




Carta ao Congresso Nacional




Estamos no Século XXI. Vivemos sob as demandas da Era que veio a ser chamada de Sociedade do Conhecimento.  Vivemos sob as demandas da crise ambiental, da crise econômica, da crise política, da crise cultural. Vivemos sob as demandas da globalização. Todos estes, signos e sinais da complexidade dos tempos que vivemos e que terão de viver as futuras gerações.

Nestes tempos de múltiplas incertezas, as gerações que coexistimos no planeta, crianças, jovens, adultos e velhos, temos uma  única resposta certa a toda essa complexidade: educação. Temos que educar para a sustentabilidade, temos que educar para inovação, educar para a democracia, educar para a diversidade, educar para a criatividade, educar para a paz, a convivência, a cooperação, a governabilidade, etc, etc.

Diante de todos os elementos que compõem a atual crise civilizatória,  é perceptível a urgência de educar para a mudança a cada um dos membros da sociedade. Esperasse que a educação seja o motor da mudança. No entanto,  quando toda a sociedade global se prepara de diversas maneiras para essas metamorfoses, se constata a dificuldade de encontrar elementos que renovem estruturalmente o paradigma educacional vigente: a escola. Quando tudo nos compele a encarar o futuro,  o sistema escolar, persiste em repetir rigorosamente seu modo de funcionar no passado.  Como muitos dos sistemas da sociedade, o sistema escolar também está em crise.

Nas últimas décadas, em todos os países  do mundo, famílias preocupadas com essa situação,  vem tomando uma decisão ousada:  assumir plenamente a responsabilidade pela educação dos seus filhos.  Querem vê-los aprendendo. Querem vê-los aproximando-se do conhecimento de maneira profunda e comprometida. Querem vê-los construindo um sentido para suas vidas a partir do que estudam e aprendem.

São pais e mães que preferem canalizar o melhor da energia dos seus filhos no sentido de privilegiar a aprendizagem e não mais no sentido de responder às infinitas demandas da estrutura escolar.  Pais e mães que acreditam que a aprendizagem acontece efetivamente quando as crianças fluem livres ao encontro dos seus interesses e não quando obrigadas a cumprir rotinas compulsórias e ritmos excessivos  . Pais e mães que preferem a alegria espontânea e a dedicação voluntária das crianças à tristeza, o desinteresse e a adaptação à disciplina imposta. Pais e mães que preferem o desafio cotidiano de viver esse processo, o processo de aprender com eles, mais do que terceirizar  a responsabilidade e  esperar por resultados escritos no papel.

Por natureza toda criança é mobilizada pelo desejo de aprender. Manter esse desejo ativo é o essencial. É o suficiente. Esse é o cerne do método da Educação Domiciliar. Acreditamos que isso acontece espontaneamente e que a intervenção institucional paralisa esse desejo ao impor necessidades e ritmos alheios à criança. Coerentemente, acreditamos que cuidar de que esse desejo de aprender aflore, se manifeste, cresça e se objetive, é o grande desafio de toda educação.

Serão as crianças que aprendam as que mudarão o mundo.  Foi assim sempre ao longo da história humana. Os que aprenderam fizeram a história e a farão no futuro. É por isso que hoje todo esforço para privilegiar a aprendizagem deve ser legitimado, estimulado e seguido.

O Brasil tem feito esforços enormes para que a infância tenha acesso à escola. Esse foi o esforço das últimas décadas do Século XX. Todos sabemos que isso não foi suficiente. No século XXI será necessário que toda a população tenha acesso a aprendizagem. Onde quer que isso aconteça efetivamente, profundamente, criativamente, ali terão que estar presentes o Estado, a sociedade e sobre todo, as famílias.

A familia é o local. São os membros da família os que efetivamente vivem o drama cotidiano de quem está construindo seu futuro. Se os fundamentos não ficarem fortes, serão a sociedade e o Estado os que viverão  o drama de mais um cidadão dependente e sujeito aos ventos da incerteza.   Por essa razão o esforço das famílias que reassumem tal responsabilidade deve ser legitimado, deve ser cuidado, apoiado, acompanhado. O Estado deve manter-se ativo nesse processo. A política pública deve ser continente suficiente e inteligente desse novo espaço.

Assim, como o Estado experimenta e encaminha diversas soluções para a pobreza, para o meio ambiente, para a economia, também deve experimentar e encaminhar diversas soluções no âmbito da educação. O Estado deve ser abrigo, ventre, de diversos paradigmas, sempre que estes tragam soluções para as necessidades da população. Deve se-lo ainda mais no que diz respeito à educação. A convivência do paradigma de educação escolar e o paradigma de educação domiciliar se faz possível no seio de um Estado presente, inteligente, diligente.

Assim como vivemos um Estado e uma sociedade que se abrem para a diversidade religiosa, a diversidade racial, a diversidade sexual, também é possível legitimar a diversidade educacional.

Será no amplo espectro de práticas educacionais que a população do século XXI encontrará soluções  efetivas às múltiplas demandas do tempo. Nesse amplo leque de possibilidades a educação domiciliar tem resposta para muitas famílias. Não para todas. Mas para elas, o direito de educar seus filhos com legitimidade é um direito tão fundamental quanto é o direito à liberdade.









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