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É a escola a única instância educadora na sociedade contemporânea? É legítimo impor a toda a sociedade um único modelo educacional? Em pleno século XXI, é impossível pensar alternativas sérias ao modelo escolar? O que estão fazendo aqueles que tiveram a coragem de educar seus filhos fora da escola? Como pensar e implementar um processo sustentável de educação fora da escola?

Estas e muitas outras perguntas tem neste blog um espaço para construir respostas. Educar os filhos na sociedade do conhecimento é um desafio que supera de longe o modelo escolar...é urgente dedicar-nos coletivamente a consolidar essas alternativas.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"HOMERO DEVIA ESTAR BEBADO...."

"...e fumado para escrever a bobagens que escreveu na Ilíada e na Odisséia. Imaginen, como é que nessa época seria possível fazer um cavalo de madeira para 10 mil guerreiros?  Como? se nessa época nem martelo e pregos tinham? Ou pior ainda, isso de que os deuses falavam com os humanos, uma loucura...".

Essa fala é real. Foi a maneira como uma professora de ensino médio, de um colégio Brasiliense que vende a imagem de ser campeão no PAS e no Vestibular, apresentou uns dias atrás, os primórdios da História Grega para uma turma de adolescentes de 15 anos.

A sala, com 40 estudantes, ficou em silêncio enquanto a professora prosseguia com sua apresentação. Timidamente, um estudante levantou a mão e disse: "Professora, não é bem assim". E então tentou explicar o livro e o autor. Porém nem a turma nem a professora estavam dispostos para ouvir. Ele, depois compreendeu, é que nem ela, nem seus colegas tinham lido o livro. Ele sim. Leu a Ilíada enquanto esteve fora da escola, nos tempos em que era um unschooler.

Uma cena como essa, permite colocar uma questão: é possível ler um livro como a Ilíada no contexto escolar?  Eu mesmo não daria conta. É um livro com uma linguagem difícil, é volumoso e demanda concentração e tempo. Sobre tudo tempo. Para ler a Ilíada ha que se contar com tempo. Tempo para aproximar-se do livro, tempo para entender sua linguagem, tempo para conseguir navegar em seu ritmo, tempo para ir muitas vezes ao começo, tempo para ir até o fim.

Se você é um leitor experiente, vai precisar de tempo para ler a Ilíada. Se você é um adolescente que está apenas tentando aprender a ler...vai precisar de muito mais tempo. E é isso que as escolas em seu modo frenético de funcionar não disponibilizam. A Ilíada é apenas uma parte de uma aula. Um sub-tema de um sub-tema. Alguns minutos serão suficientes para elaborar, ou destruir (como no caso acima) para sempre um tema como esse.


Mas é preciso ler a Ilíada. É preciso ler a Odisséia. É preciso ler pelo menos alguns clássicos na vida. Como fazer isso se o ritmo do sistema escolar impede completamente que isso aconteça. É por isso que a escola não produz leitores. Os leitores os produz o tempo que o leitor dedica à leitura.  Mas, sinceramente, não acredito que seja necessário ler muito para tornar-se um bom leitor. Não é pela quantidade de livros lidos. Mas pela qualidade dos livros lidos.

Por isso é necessário ler a Ilíada. Porque só esse livro vale por  muitos. Vale ler a Odisséia, porque sua leitura eqüivale a de muitos outros livros. Cada clássico ilumina uma biblioteca. Mas para ler um clássico uma criança precisa de tempo. Ter que ler um livro para uma avaliação já destrói qualquer possibilidade de aproximação com o livro. Por isso eles lêem resumos, de resumos, de resumos. Eles e seus professores. Por isso, por falta de tempo, os seus professores terminam dizendo coisas como essas em sala de aula.

É melhor ler um clássico ao longo de um ano, do que perder um ano lendo dezenas de resumos.









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